Tradução de 4 poemas de Cheryl Clarke

tammuzs
5 min readAug 17, 2019

Essas traduções foram, anteriormente, publicadas no escamandro (2015) e na Revista Germina (2016).

Cheryl Clarke em 1987. Foto de Robert Giard. Disponível aqui.

Cheryl Clarke (1946 –) é poeta, educadora, teórica, ativista feminista negra e lésbica. Estudou Inglês na Howard University e fez mestrado e doutorado em Inglês na Rutgers University, onde começou a dar aula no começo dos anos 70. Participou do Departamento de Mulheres e Estudos de Gênero; fundou e dirigiu o Instituto de Educação, Justiça Social e Comunidades LGBT em 2004 e foi reitora dos estudantes do campus Livingston da Rutgers University, de 2009 a 2013, onde se aposentou, após 41 anos de trabalho.

Hoje é co-proprietária da Blenheim Hill Books em Hobart, Nova York, junto de sua esposa Barbara J. Balliet. Também organiza o Book Village Festival of Women Writers, festival anual de mulheres escritas em Hobart.

É autora de vários livros de poesia, entre eles Narratives: Poems in Tradition of Black Women (1981), Living as a Lesbian (1986), Humid Pitch (1989), Experimental Love (1993), Corridors of Nostalgia: the poems of Cheryl Clarke (2007), Days of Good Looks: Prose and Poetry, 1980–2005 (2006), do texto crítico After Mecca — Women Poets and the Black Arts Movement (2006). Seu livro mais recente é By My Precise Haircut (2016).

Abaixo traduzidos estão quatro poemas com que mesclam os temas erótico, sexualidade e amor que foram retirados, respectivamente, de seus livros Living as a Lesbian (1986) e Days of Good Looks: Prose and Poetry, 1980–2005 (2006).

an exile I have loved

an exile I have loved tells me she’s going home.
Smug I say:
‘Back to the city?’
‘No. First to Zambia. Then Zimbabwe.
Finally Transvaal. Home,’ she answers sad.
We sleep and wake to voices of men in the hallway
asking through doors of faces that are changed
and names that have not been spoken since.
I hold her to me
and remember the gold in my ears
ask for a way to stay in touch with her
tell her she’s got a home as long as I got mine.
Hold her to me until she must push away
and slip from the room.

uma exilada que amei

uma exilada que amei me diz que está voltando para casa.
Arrogante, perguntei:
“De volta à cidade?”
“Não. Primeiro para Zâmbia. Depois Zimbábue.
Por fim Transvaal. Casa”, ela respondeu, triste.
Nós dormimos e acordamos com vozes de homens no corredor
perguntando, de porta em porta, sobre rostos que foram mudados
e nomes que não foram ditos desde então.
Eu a abracei
e lembrei dos brincos de ouro em minhas orelhas
perguntei uma maneira de manter contato
disse-lhe que ela tem um lar, desde que eu tenha o meu.
Segurá-la perto de mim até que ela me largue
e saia do quarto.

intimacy no luxury

Intimacy no luxury here.
Telephones cannot be left off the hook
or lines too long engaged
or conversations censored any longer.
No time to stare at our hands
afraid to extend them
or once held
afraid to let go.
We are here.
After years of separation
women take their time
dispose of old animosities.
Tribadism is an ancient panacea and cost efficient
an ancient panacea and cost efficient.

intimidade não é luxo

Intimidade não é luxo aqui.
Telefones não podem ser tirados do gancho
ou linhas muito tempo ocupadas
ou conversas censuradas.
Sem tempo para contemplar nossas mãos
com medo de estendê-las
ou, depois de dá-las
temendo soltar.
Estamos aqui.
Após anos de separação
mulheres aproveitam seu tempo,
dispensam velhas animosidades.
Tribadismo é uma panaceia ancestral e vale a pena
uma panaceia ancestral e vale a pena.

nothing

nothing I wouldn’t do for the woman I sleep with
when nobody satisfy me the way she do.
kiss her in public places
win the lottery
take her in the ass
in a train lavatory
sleep three in a single bed
have a baby
to keep her wanting me.
wear leather underwear
remember my dreams
make plans and schemes
go down on her in front of her
other lover
give my jewelry away
to keep her wanting me.
sell my car
tie her to the bed post and
spank her
lie to my mother
let her watch me fuck my other lover
miss my only sister’s wedding
to keep her wanting me.
buy her cocaine
show her the pleasure in danger
bargain
let her dress me in colorful costumes
of low cleavage and slit to the crotch
giving easy access
to keep her wanting me.
Nothing I wouldn’t do for the woman I sleep with when nobody satisfy me the way she do.

não há nada

não há nada que eu não faria pela mulher com quem durmo
quando ninguém me satisfaz como ela.
beijá-la em lugares públicos
ganhar na loteria
comer-lhe o cu
no banheiro do trem
dormir três pessoas numa cama de solteiro
ter um filho
para que ela continue me querendo
usar calcinha de couro
lembrar dos meus sonhos
fazer planos e esquemas
chupá-la na frente da sua
outra amante
dar minhas joias embora
para que ela continue me querendo
vender meu carro
amarrá-la ao pé da cama e
espancá-la
mentir para minha mãe
deixá-la ver eu comer minha outra amante
perder o casamento da minha única irmã
para que ela continue me querendo
comprar-lhe cocaína
mostrar-lhe o prazer no perigo
barganhar
deixá-la me vestir com roupas coloridas
com decotes e fendas até a virilha
dar-lhe faço acesso
para que ela continue me querendo.

Não há nada que eu não faria pela mulher com quem durmo quando ninguém me satisfaz como ela.

Sexual preference

I’m a queer lesbian.
Please don’t go down on me yet.
I do not prefer cunnilingus.
(There’s room for me in the movement.)
Your tongue does not have to prove its prowess
there
to me
now
or even on the first night.
Your mouth all over my body
then there.

Preferência sexual

Sou uma lésbica queer.
Por favor, não me chupe ainda.
Eu não prefiro cunnilingus.
(Há lugar para mim no movimento).
Sua língua não tem de provar o seu talento

pra mim
agora
ou até mesmo na primeira noite.
Sua língua por todo meu corpo
depois lá.

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Traduções de Thamires Zabotto.

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tammuzs

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